quarta-feira, 30 de setembro de 2009

SOBRE O INSTANTE...

Sobre o instante
Não mais existo
Mas sou Presente, Futuro-Sido

E no exato instante
Eu sonhei
Eu amei
Eu desejei
Eu escrevi
Eu fui... Nesse instante... Eu fui...

O que você sonhava
E amava
E desejava
E escrevia sobre... O instante...

Não existe mais
Não mais existo
Nesse instante
Eu desisti...

...
...
...
...

...
...
...
...

Sobre o instante
Não mais existo
Mas sou Presente, Futuro-Sido...

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Das suas pausas
Dispersas no tempo

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Das suas pausas
Perdidas no tempo...


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Sobre o Instante pretendo também dizer sobre a Identidade, assim, quando escrevo que “sobre o instante não mais existo”, o mesmo vale para a identidade. Quanto à identidade, entendo o que Stuart Hall quis dizer ao analisar Freud e Jacques Lacam:
“...em vez de falar da identidade como uma coisa acabada, deveríamos falar de identificação, e vê-la como um processo em andamento. A identidade surge não tanto da plenitude da identidade que já esta dentro de nós como indivíduos, mas de uma falta de inteireza que é ‘preenchida’ a partir de nosso exterior...” (Stuart Hall, 1992).

Ora, partindo desse pressuposto, a todo instante que preenchemos a nossa falta de inteireza com novas concepções de identificações, estamos deixando de ser o que agora somos. Logo, nesse exato instante eu fui o que você achava sobre mim.
Quanto ao Presente, Futuro-sido, o que pretendo descrever é como a nossa imaginação/identidade constrói narrativas que juntam o passado e o futuro numa forma de síntese. Tal síntese – segundo o geógrafo Denis Cosgrove – envolve a confirmação simbólica do passado à utopia como função de abertura simbólica do futuro.
Stuart Hall ao falar sobre identidade nacional diz que o “discurso da cultura nacional (...) constrói identidades que são colocadas, de modo ambíguo, entre o passado e o futuro. Ele se equilibra entre a tentação por retornar as glórias passadas e o impulso por avançar ainda mais em direção a modernidade” (Stuart Hall, 1992).
A ideologia (passado) oferecendo mitos e símbolos em conjunto com a utopia (futuro) oferecendo impulsos e desejos a evolução do individuo – com um certo desvio da realidade – seriam enfim, elementos naturais e necessários para o imaginário social (Ricoeur, 1979) e para a identificação. Somos assim, não um instante, uma pausa, uma identidade, mas sim um processo contínuo, mutável e “onitemporal”...

Dispersos no tempo...
Daniel Souza Santos

3 comentários:

  1. Bom... nó somos mutáveis como diz Heidegger e sempre vai haver um passado, presente e futuro, mais o que vale é o que faremos nossa realidade neh, o passado ja foi mais desistir jamais.

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  2. A imaginação é o estado da nossa identidade em que podemos ser nós mesmos... A nossa identidade é aquilo que a gente espia pelo buraco da fechadura, mas não tem coragem de abrir a porta. Porque quando a gente pensa em ser nós mesmos...já era. Porque o real é aquilo que a gente faz sem pensar. O problema está em que temos medo...De darmos conta do tamanho das asas da liberdade.
    Rico texto Daniel.Inspirador em tempos em que se há uma verdadeira crise de identidade. E feliz por ter resguardado a tua!

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  3. Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã. (Victor Hugo)

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